// Pós Produção, e a Linguagem Visual

Uma imagem pode ser processada de inúmeras maneiras – qual a correta? Neste caso, a imagem foi executada tendo o PB em vista. Alguma dúvida em como essa pose sóbria parece um tanto inadequada para as cores berrantes de algumas das alternativas?

Ao longo de diversas palestras e workshops pelo Brasil todo, uma das perguntas mais frequentes foi:

Qual a receita do tratamento correto?

Adoro essa pergunta, pois ela me permite esclarecer dois enganos com uma só resposta. A resposta é que não existe, nem a receita nem o tratamento correto. É impossível sugerir um determinado tratamento sem ver a imagem que será tratada, e mais importante ainda, sem decidir previamente que cara ela deverá ter.

É possível sugerir um fluxo de trabalho, baseado em razões lógicas – como, por exemplo, o fato de se deixar a aplicação de nitidez por último tem lá seus motivos, e são motivos importantes. Então deixamos esse processo para o final, conforme recomendado. Agora, como é que eu vou regular os parâmetros de nitidez, ou qual ferramenta usarei – dentre tantas que existem – para aplicar essa nitidez, isso depende enormemente da imagem.

Em tempos de fotografia em RAW e poderosos processadores como o Lightroom e o Adobe Camera RAW, a liberdade que temos com essas imagens chega a ser incômoda. É possível aplicar qualquer renderização de cores, qualquer curva de contraste, é possível até mesmo alternar entre PB e cor, e voltar novamente ao PB se for desejado.

Se tudo é possível, como escolher o correto?

Simples. Assim como escolhemos enquadramento, composição, fundo, luz… as escolhas são infinitas, mas sempre sabemos o que fazer, porque fomos treinados para somar todos estes componentes de maneira apropriada para conseguir um resultado coerente. Pós produção simplesmente faz parte desta soma.

Uma sessão de fotos com luz suave e poses clássicas dificilmente vai ser feita com cores berrantes, e contraste lá em cima. Mesma coisa no lado oposto da moeda – um ensaio moderno, com roupas super coloridas não é propriamente um bom candidato aos seus testes com sépia e tratamentos retrô. Nada impede que trabalhemos com os dois tipos de tratamento em projetos diferentes, mas eles têm de estar em harmonia com o clima das imagens de cada projeto.

Vou propor um exercício interessante: Tente predefinir como será sua linguagem, antes mesmo de fazer a sessão de fotos. Veja imagens de outros fotógrafos, pense em um clima de fotos (retrô, romântico, moderno, dramático ou outro qualquer). Pegue fotos similares do seu acervo e comece a tratar no Lightroom ou Adobe Camera RAW (esse trabalho fica mais fácil quando usamos softwares desse tipo, no lugar do Photoshop).

O que buscar nesse tratamento? A idéia aqui é chegar a um determinado tipo de PB e outro tipo de imagens coloridas, para montarmos presets.

Ao organizar seu tratamento em presets e definindo-o ainda na fase de concepção do trabalho, o ganho de consistência e praticidade impressiona.

Quando encontrar um PB mais harmônico com a sua idéia para esta sessão de fotos, salve-o como um preset de Lightroom ou de ACR. Mesma coisa quando estiver satisfeito com a imagem colorida. Introduza algum efeito interessante, como uma suave invasão de cor, ou um contraste estranho. Não fique na imagem comum.

Agora vem o grande diferencial da atividade toda. Como invertemos a sequência normal, criando um método de tratamento antes mesmo de clicar, um efeito muito interessante será sentido: esse “clima” que deixamos pré escolhido, como se fosse uma escolha de filme, influenciará as fotos. Se o efeito se beneficiar de uma leve superexposição, já sabemos que temos de superexpor.

Se escolhemos cores suaves e pastéis, com uma cara retrô, nossa composição, direção de modelo e muito mais irá seguir esse clima. As imagens terão uma força maior, por terem seus elementos mais coerentes entre si.

Bônus operacional: ao transferir as imagens dos cartões de memória para o computador, já é possível, em poucos cliques, aplicar esses presets desenvolvidos previamente nas imagens, reduzindo muito o tempo de tratamento.

Bônus operacional II: assim como o planejamento que já sugeri em um post anterior, a criação prévia de um leque próprio de presets ajuda bastante na uniformização do trabalho de equipes fotográficas.

Ao tornar esse exercício constante, você irá acabar percebendo um de seus maiores benefícios – ele ajuda também na busca daquele “toque pessoal” que tanto faz a diferença entre o produto de um fotógrafo e o de outro. Seu tratamento de imagem será parte de sua assinatura, e posso garantir: será sempre o correto para suas imagens.

Seja criativo, e bons cliques!

* Matéria originalmente publicada na revista Photo Magazine, edição 33.

 

Alex Villegas

Fotógrafo e retocador, com mais de 10 anos de experiência em tratamento de imagens, produção gráfica e design. É autor do livro, O Controle da Cor – Gerenciamento de cores para fotógrafos e ministra cursos sobre o assunto no IIF. http://alexvillegas.wordpress.com

 

 

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