// PB e digital: um casamento perfeito

Desde os primórdios da fotografia, o PB tem sido uma de suas mais expressivas vertentes. Mesmo com o surgimento da película colorida – que supostamente tinha vindo para enterrar o PB – a fotografia monocromática continuou firme e forte, com sua maneira peculiar de descrever a realidade.

E assim como o PB sobreviveu ao surgimento das cores, ele também está encontrando muitos recursos para se alimentar na fotografia digital – o processo de se produzir fotografias em preto e branco nunca foi tão fácil e flexível como na era digital. Uma reflex digital corretamente operada e uma boa inkjet são imbatíveis na tarefa de produzir ampliações de qualidade.

E o que faz com que consigamos uma imagem PB de qualidade?

ASSUNTO CORRETO

Não é toda imagem que rende um PB bonito – lembre-se que estamos lidando apenas com contraste tonal, não dispomos de contraste cromático para ajudar a valorizar o nosso assunto. Acabamos tendo de prestar o dobro de atenção ao contraste tonal e a ferramentas auxiliares como composição e texturas. Mesmo com um contraste suave, uma imagem PB se alimenta de textura.

EXPOSIÇÃO CORRETA

Fotografe em RAW. Vale a pena, pode apostar – sem as cores para disfarçar, nossos olhos se concentram unicamente nas transições tonais, e a gama de informações extra que o RAW nos oferece facilita e muito a nossa tarefa na hora de produzir transições suaves e com o contraste correto.

Superexponha. Com a prática, é possível saber quanto podemos superexpor para ter uma melhor qualidade de captura sem “detonar” as altas luzes. Detalhe nas sombras faz maravilhas pela sua exposição, e não se preocupe com o visual no LCD da câmera – o importante é ter informação bruta bem posicionada ao longo do histograma. Sempre se pode escurecer depois, mas cuidado com as altas luzes.

Fotometria pontual e sistema de zonas são uma excelente pedida por aqui – uso a pontual 90% do tempo, e vale tremendamente a pena.

CONVERSÃO CORRETA

Se você fotografou em RAW, está com uma imagem colorida na frente de seus olhos – e agora, como selecionar corretamente a informação para construir uma boa imagem preto e branco?

O próprio Adobe Camera RAW contém ferramentas mais do que suficientes, então vamos a elas:

Clique no ícone HSL/Grayscale e depois marque a caixa de seleção Convert to Grayscale. Uma sugestão de conversão, normalmente bastante apagada, irá aparecer. O pulo do gato aqui é, a partir do contraste cromático que dispomos agora, construir o melhor contraste tonal que pudermos. E para isso utilizamos as zonas de cor da paleta Grayscale Mix.

Cores com matizes diferentes mas tonalidades similares, como a dupla verde/vermelho, tendem a ficar praticamente iguais quando a imagem é convertida para PB. Então trate de distanciá-las tonalmente, escurecendo uma zona de cor e clareando a outra. Pegue leve, porque iremos ainda trabalhar esta imagem. Só precisamos de um bom bloco de mármore para fazer nossa escultura.

Uma vez construído um contraste tonal mais decente, é hora de acentuá-lo ainda mais – eleve o parâmetro Exposure até que as áreas claras estejam na posição desejada, e utilize o Recovery se as altas luzes estourarem. Caso tenha superexposto na captura, o ajuste de Exposure se torna desnecessário, mas o Recovery triplica sua importância.

Depois preste bastante atenção nas zonas de sombra. Rigoroso controle de tons é a chave de um bom PB, então seja bem objetivo nos seus requisitos. Se quiser preto fechado, sem textura, em algumas zonas da sua imagem, ative o triângulo ao lado esquerdo do histograma e ajuste Blacks até essas áreas ficarem tingidas de azul.

Ganhe textura nas áreas mais escuras com o Fill Light. Caso a imagem ainda pareça sem vida, aumente contraste e profundidade com Contrast e Clarity.

Um último passo opcional é trabalhar com a paleta Tone Curve – usando a curva Strong Contrast a imagem ganha ainda mais pegada, e pequenos ajustes na curva podem valorizar alguns contrastes em detrimento de outros (por exemplo, mais contraste nas sombras do que nas altas luzes).

ACABAMENTO CORRETO

Normalmente, após esta fase no processamento da imagem eu tenho um PB bem decente – abro o arquivo RAW no Photoshop, normalmente em Adobe RGB 16-bit.

Mas porque 16-bit?

Em RGB, valores iguais nos 3 canais de cor correspondem a um tom neutro. Então, para descrever uma imagem PB em 8-bit RGB, não tenho 256 elevado à terceira potência, mas apenas 256 níveis, já que os três estão atrelados. Nada bom para quem quer construir uma imagem com transições suaves.

Já usar 16-bit RGB me garante pelo menos 4072 tons, com a vantagem de que impressoras como a HP 3200 imprimem imagens de 16 bits. Muitos tons serão perdidos na impressão, mas sabe como é… melhor ter e não precisar…

Com o arquivo aberto, duas questões se levantam – e elas têm a ver com ruído e nitidez.

RUÍDO vs. GRÃO

Pessoalmente, não gosto de interferir nas características de ruído do meu dispositivo de captura –fotografando com filme puxado, gosto do grão grande, já se é uma reflex de geração nova, deixo o (pouco) ruído natural dela. Só me livro do ruído de croma, que aqueles pontinhos coloridos ninguém merece – mas isso é assunto para uma outra coluna.

Por outro lado, não vejo nada de mal em se adicionar grão a imagens muito “lisas”, na busca por uma imagem com mais referência visual à fotografia de película. Para isso é possível utilizar plugins como o Silver Efex Pro, da Nik Software, ou adicionar ruído da seguinte maneira:

1 – crie uma nova camada, preenchida com 50% de cinza, em modo Overlay;

2 – use Filter>Noise>Add Noise;

3 – caso o grão tenha ficado pequeno demais, redimensione a camada.

Só isso? Basicamente, mas grão de filme tem uma peculiaridade – ele é mais visível nos meios tons, diminuindo bastante nas sombras e altas luzes. Para emular essa característica, utilize o recurso Blend If na paleta Layer Properties para limitar a ação de nosso grão falso.

NITIDEZ

Uma das coisas mais gostosas da fotografia PB é o cuidado com que cuidamos dos detalhes – é uma atividade extremamente minuciosa e gratificante. E é assim com a nitidez, também. Aplico nitidez em duas passagens, uma visando a nitidez geral da imagem (o procedimento no Photoshop é aquele mesmo do post técnico passado), e uma segunda vez, visando os contrastes locais e áreas que necessitam de mais textura e aguçamento, como tecidos e cabelos. Sinta-se à vontade para abusar dos parâmetros Amount e Radius.

Essa segunda passagem é localizada, ou seja, a camada que recebeu essa segunda rodada de Unsharp Mask é escondida com uma máscara de camada preta, onde pinto com branco apenas as áreas que precisam desse aguçamento extra.

E PARA IMPRIMIR?

A impressão também é divertida – caso tenha acesso a uma empresa com uma boa inkjet como a HP 3200Z, envie seu arquivo em Adobe RGB 16 bits que eles cuidam do resto – certifique-se de escolher um bom papel, como os Canson e Hahnemühle, e caso vá utilizar um formato superior ao que a resolução máxima de sua câmera suporte, não se esqueça de interpolar a partir do RAW (antes mesmo de tratar sua imagem no Photoshop), o que renderá uma maior qualidade. Outra excelente pedida é utilizar um plugin de interpolação. Eu utilizo o BlowUp, da Alien Skin, e gosto muito dos resultados.

Divirta-se criando ampliações inigualáveis com o processo digital, e nos vemos no próximo post técnico!

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*¹ Texto originalmente publicado na revista Photo Magazine, edição 30.

*²Alex Villegas, Fotógrafo e retocador, com mais de 10 anos de experiência em tratamento de imagens, produção gráfica e design. É autor do livro, O Controle da Cor – Gerenciamento de cores para fotógrafos e ministra cursos sobre o assunto no IIF. http://alexvillegas.wordpress.com

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