// Mitos e Verdades sobre Fotografia Digital (1ª Parte)

Uma das tarefas mais complicadas na vida é separar verdades de crendices – saiba identificar alguns dos mitos mais comuns da era digital.

Tecnologia evolui em escala exponencial – assim como na pintura de barcos, em que se chegar na proa já é hora de pintar a popa de novo, quando achamos que estamos completamente a par do assunto, nossas informações já estão obsoletas. E toca a começar tudo de novo.Pesquisar é uma terapia para quem tem tempo, mas é um castigo para quem não dispõe dele – por isso escolhi aqui cinco das mais interessantes crendices, dando prioridade às de pós-produção e impressão, que são os ramos menos familiares aos que fotografam. Eu, pessoalmente, adoraria que tivessem me esclarecido essas coisas quando comecei a clicar em digital…

MEGAPIXELS – QUANTO MAIS, MELHOR

Dizem que “depende” é a melhor das respostas, serve pra tudo. Não sou doido de concordar, mas tenho que admitir que em grande parte das situações a frase tem lá seu fundo de verdade. Contexto é tudo.

Resolução pura e simples, não é como dinheiro, de cujo excesso dificilmente reclamaremos – precisa estar associada a uma série de fatores para nos dar os melhores resultados. Um deles é a pouco citada densidade de pixels. E o que é essa tal densidade?

Já parou para se perguntar por que a imagem de uma câmera compacta de 12 Mp não se compara à de uma SLR com os mesmos 12 Mp?

 

Uma das respostas é o tamanho do sensor. Quanto maior o sensor, maiores os receptores de luzes individuais, e mais límpida é o sinal que produzem. Isso significa que existe um limite para a quantidade de receptores que podemos colocar em uma dada área do sensor – a tal da densidade de pixels.

Estes são os tamanhos relativos dos principais sensores utilizados em câmeras digitais – alguma dúvida de que um back ou uma SLR “full frame” pode acomodar muito melhor 15 MP do que uma câmera com sensor APS-C ou mesmo uma compacta?Nos menores sensores, a densidade de pixels chega às alturas.

Sensores muito pequenos abusam deste limite, e têm uma tendência maior à geração de ruído. A consequência é que aí a câmera é obrigada a aplicar uma redução de ruído mais elevada, o que degrada a imagem. Da câmera de celular aos backs digitais, a qualidade vai aumentando de maneira brutal – tenho imagens de nitidez e qualidade soberba, feitas com um back Kodak de 6Mp “espetado” numa Hasselblad.

Outra das respostas é a qualidade da ótica – lentes de SLR costumam ser mais complexas, mas com um desempenho melhor. Com maior capacidade de focar os raios de luz com precisão sobre os receptores de luz, a nitidez e qualidade da imagem agradecem. Lentes de baixa qualidade produzem uma imagem mais borrada, que é reproduzida em toda a sua falta de detalhes pelo sensor.

Isso traz à tona um engano muito comum hoje em dia: adianta alguma coisa ter câmeras com densidade de pixels incrível, como a 50D da Canon, e usar ótica de segunda linha? A resolução estará lá, mas o detalhe não. De certa forma, é como usar uma TV Full HD para ver fitas VHS. A qualidade da fita não irá melhorar por causa da TV.

Então, para livrar-se do fantasma dos megapixels, se faz necessário coordenar os elementos do problema: ótica, sensor, e por último mas não menos importante, necessidade de resolução. O que nos leva ao próximo mito:

300 PPI PARA IMPRESSÃO

Outro mito comum é o da resolução para impressão. Na impressão, costumamos considerar a resolução padrão de 300 PPI (pixels por polegada), seja qual for o processo – o que não é bem a realidade.

A regra dos 300 PPI vale apenas para minilabs – impressoras offset (leia-se gráficas) trabalham com o conceito de linhas, ou lineatura. Explicando de uma maneira bem simplista, cada substrato, ou superfície imprimível, suporta uma determinada quantidade de linhas impressas por polegada. Abaixo disso, você está subutilizando a superfície, que poderia conter mais detalhe. Acima disso, corre o risco das linhas impressas “grudarem” umas nas outras, porque a tinta sempre espalha – mais em alguns tipos de substrato, menos em outros, mas sempre espalha, no fenômeno conhecido como ganho de ponto.

Da HP Indigo 5500 (maior) às máquinas de impressão em lona – a do detalhe é um pequeno monstrinho cilíndrico de sete metros de boca – cada impressora trabalha com diferentes substratos e diferentes lineaturas.

O importante aqui é saber a lineatura típica de cada substrato, antes de preparar suas imagens – algumas sugestões:

Tecido: 18 LPI (linhas por polegada)

Jornal: 90 LPI

Papel sem revestimento (alta alvura): 133 LPI

Papel revestido (couché): 150 LPI

Uma vez de posse desta informação, é só realizar esta operação matemática, recomendada pelos técnicos de impressão da Agfa:

{LPI /2}*3=DPI

Ou seja, se vai imprimir uma capa de revista em couché, a 150 LPI, é só dividir este valor por 2 e multiplicar por 3, o que dá 225 PPI.  Quando se está fazendo uma impressão de página dupla ou de grande formato, o ganho de tamanho que se tem ao calcular corretamente a resolução é considerável.

Informe-se com seu impressor, e utilizará muito melhor a capacidade de captura de sua câmera.

MONITOR CALIBRADO REPRODUZ EXATAMENTE AS CORES

Um dos mais famosos mitos da fotografia digital é relacionado ao gerenciamento de cores – é aquele que reza que podemos ver exatamente o que será impresso, utilizando um monitor calibrado.

O uso do monitor calibrado não é só recomendável, é praticamente obrigatório, mas há algumas limitações inerentes ao sistema. Por exemplo, o fato de que um monitor é simplesmente incapaz de reproduzir determinados tons. Alguns tons de ciano, por exemplo, estão completamente fora do mapa de reprodução de cores de qualquer monitor.

Mesmo entre monitores, há limitações – certos tons de amarelo são possíveis de reproduzir em monitores LCD, mas não em monitores CRT.

E muitas vezes, trabalhamos no Photoshop usando espaços de cor maiores do que o espaço que o monitor consegue reproduzir – poucos monitores reproduzem algo próximo ao Adobe RGB, e nenhum mostra o ProPhoto. Quando trabalhamos com um desses espaços de cor, o que vemos no monitor não é a realidade, mas uma redução dos dados, para que possam ser exibidos em um dispositivo de capacidade menor de reprodução.

Como se pode ver, o monitor é incapaz de reproduzir tanto uma boa parte das cores que a câmera captura, como também boa parte das cores que uma inkjet reproduz.

Não se assuste – mas mesmo com o monitor calibrado, quando temos detalhes importantes da imagem residindo nessas áreas, estamos de certa forma voando por instrumentos.

Um sistema de gerenciamento de cores é interpretativo, ou seja, fornece dados que embora não sejam visualmente exatos, fornecem informações preciosas sobre o resultado final – a impressão, por exemplo – que fica perfeitamente previsível. Exige alguma prática, ao contrário do que se costuma supor, mas não é nada de outro mundo.

(continua na próxima edição…)

*Artigo veiculado na Photos e Imagens, edição 73.

Alex Villegas
Fotógrafo e photoshopper, com mais de 10 anos de experiência em tratamento de imagens, produção gráfica e design. É autor do livro O Controle da Cor – Gerenciamento de cores para fotógrafos e ministrar cursos sobre o assunto no IIF

Cadastre-se e receba as principais novidades do ramo da fotografia.

Posts Relacionados

Danilo Russo lança guia completo sobre Iluminação na Fotografia em palestra ao vivo

Danilo Russo lança guia completo sobre Iluminação na Fotografia em palestra ao vivo

O domínio da iluminação na fotografia é algo que não acontece do dia para...

[2019] VAGA: ASSISTENTE DE SALA DE AULA E FOTOGRAFIA NO IIF

[2019] VAGA: ASSISTENTE DE SALA DE AULA E FOTOGRAFIA NO IIF

O IIF (São Paulo) está com uma vaga aberta para Assistente de Sala de Aula e...

Festa da fotografia da Canon leva nomes consagrados da fotografia para o Ibirapuera

Festa da fotografia da Canon leva nomes consagrados da fotografia para o Ibirapuera

No dia 21 de setembro, o Parque Ibirapuera, em São Paulo, recebe o Zoom In...

FOTO MIS 2019 reúne obras de artistas fundamentais da história da fotografia em São Paulo

FOTO MIS 2019 reúne obras de artistas fundamentais da história da fotografia em São Paulo

Anualmente, o Museu da Imagem e do Som (MIS) realiza o FOTO MIS – antigo Maio...

Clique aqui para receber mais informações

Parceiros