// Mitos e Verdades sobre Fotografia Digital (Última Parte)

Uma das tarefas mais complicadas na vida é separar verdades de crendices – saiba identificar alguns dos mitos mais comuns da era digital.

 

Continuação da matéria publicada no dia 15 de outubro de Alex Villegas, sobre Mitos e Verdades Sobre Fotografia Digital.

PRECISO DE UM BACK DIGITAL PARA FAZER OUTDOOR

Várias vezes fui consultado sobre aplicativos de interpolação por fotógrafos que desejavam fazer imagens para outdoor – imaginando que fossem necessárias dezenas de megapixels, backs digitais ou sofisticados sistemas de interpolação. Ignoravam uma das mais importantes partes da equação – a distância de visualização.

As contas que realizamos logo acima, relacionando lineatura e resolução, têm como base a distância padrão de visualização. Revistas, jornais e livros são objetos que seguramos nas mãos, raramente a uma distância maior do que 50cm.

No instante em que aumentamos essa distância, nossa percepção de detalhes e contraste se modifica, e já não há necessidade de uma resolução tão elevada. Duplique a distância, a resolução cai pela metade. Dez vezes mais distante, dez vezes menos pixels são necessários.

Uma plotter se aproveita desse fenômeno para imprimir em lona – um substrato rústico, que tolera apenas uma lineatura baixa – em baixa resolução com excelentes resultados, visto que as imagens serão visualizadas a grande distância.

Os 30 PPI padrão utilizados pelas empresas de impressão de grande formato garantem a visualização de imagens perfeitas a cinco metros de distância – mas é muito frequente que a distância seja maior. E raramente aproveitamos essas oportunidades para potencializar a qualidade de nossas imagens.

Experimente olhar pela rua – só conseguirá visualizar um outdoor inteiro a uma distância de no mínimo dez metros. O que em teoria corta pela metade nossa necessidade de resolução. Na prática, eu recomendaria cair para 20 PPI, o que ainda nos dá uma certa margem de segurança. Ou seja, a imagem do nosso hipotético outdoor de 9 x 3m teria 90cm do lado maior, a 200 PPI, ou 60cm se considerarmos 300 PPI.

A partir de um bom original em RAW é perfeitamente possível interpolar cerca de 30% tranquilamente, sem perdas facilmente perceptíveis de qualidade. Ou seja, se a sua câmera pode fazer 25 x 38cm a 300 PPI, ela pode perfeitamente fazer um outdoor de boa qualidade com uma única foto.

Exemplo extremo: esta lateral de prédio tem cerca de 24 x 40 metros, e foi impressa usando cerca de 4 PPI.

E nem sequer citei que a grande maioria das imagens para outdoor não chega nem perto de ocupar toda a área do cartaz…

RAW É INVIÁVEL EM EVENTOS SOCIAIS

Ao longo dos últimos anos, o formato RAW tem ganhado cada vez mais adeptos entre os fotógrafos profissionais – mas ainda não conquistou os fotógrafos de eventos sociais.

Um dos motivos é a crença de que o tamanho e a necessidade de processamento tornam o fluxo de trabalho mais lento, e que a diferença de qualidade não é visível pelo cliente final. Mas o fato é que o trabalho em RAW apenas exige uma certa preparação prévia e otimização do fluxo – cumprida essa etapa, o trabalho em RAW fica tão ou mais ágil do que sua contraparte em JPEG.

O trabalho em RAW permite certas regalias, como:

–          flexibilidade absoluta no balanço de branco;

–          possibilidade de aproximar muito a resposta de cor de câmeras diferentes;

–          arquivos passíveis de maior interpolação;

–          maior latitude.

O tamanho maior dos arquivos é contornado pela nova geração de câmeras, que tem maiores buffers e a alternativa de alta velocidade do formato sRAW – small RAW, ou um arquivo RAW com menor resolução – pelos cartões de memória maiores e mais rápidos, computadores mais ágeis e principalmente pelos softwares como o Adobe Lightroom.

Experimente utilizar softwares como o Adobe Lightroom para gerenciar e processar fotos RAW – a velocidade do fluxo de trabalho se torna impressionante.

O Lightroom permite que se usem técnicas específicas para o processamento de grandes volumes de fotos, e oferece uma agilidade sem precedentes no tratamento de imagem. Visto que ele age através de parâmetros que só são aplicados na imagem na hora de exportar – sem necessidade de longos processamentos ou de “salvar” o trabalho – operações como tratamentos criativos de cor, conversões para PB e afins podem ser testadas e realizadas com velocidade sem precedentes, através dos chamados presets. Experimentar é muito rápido no Lightroom.

Normalizações de cor podem ser feitas já na  transferência de arquivos do cartão de memória para o computador, e a “receita” de processamento de uma imagem pode ser aplicada em centenas de outras, através de um simples ato de copiar e colar.

Nem só de teoria vive o homem, e pus os argumentos à prova, fotografando alguns eventos, sincronizando duas ou mais câmeras, e processando sessões de fotos com mais de mil cliques.

Acreditem em mim, não desmereço quem fotografa em JPEG, longe disso. Mas entendo que seja uma questão de mera preferência pessoal, porque ao longo dos últimos meses de pesquisa e prática, confirmei que RAW não só é perfeitamente viável, como muito recomendável na grande maioria dos casos.

NA PRÁTICA A TEORIA É OUTRA

Mas não tome minhas palavras por verdade incontestável: podem me acusar de relativista, mas acredito piamente que conhecimento sem experiência de nada serve. Muitas das crendices e mitos da fotografia estão aí simplesmente porque foram verdade um dia, mas foram privados desse status pela evolução vertiginosa da tecnologia. A limitação de hoje fatalmente será contornada amanhã.

Assim são os dogmas… enquanto não são contestados, eles vão ficando, feito visitas chatas. Então, você que lê estas linhas, aceite meu convite e exercite sua capacidade crítica. Comprove as informações acima na prática, pense em outras afirmações clássicas – já não parecem tão sólidas e incontestáveis agora, não? Que tal testá-las?

Tecnologia e informação existem para facilitar nossa vida, não para limitá-la e complicá-la.

*Artigo veiculado na Photos e Imagens, edição 73.

Alex Villegas

Fotógrafo e photoshopper, com mais de 10 anos de experiência em tratamento de imagens, produção gráfica e design. É autor do livro O Controle da Cor – Gerenciamento de cores para fotógrafos e ministrar cursos sobre o assunto no IIF

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