// Mas porque raios você agora usa esse trambolho?

Fotografia de grande formato pelo professor Alex Villegas. Publicado originalmente no site Queimando Filme

Grande formato é um mundo bizarro; são dezenas de modelos diferentes, cada um com um desenho diferente, tamanho diferente, peso diferente, super poderes (!) diferentes. Mexer com essas câmeras é sempre uma aventura – tanto que eu, digital de nascimento, acabei me apaixonando por esses monstrões, que hoje respondem por uma parte muito importante do meu trabalho.

Falando em responder, a ideia deste artigo é responder a pergunta que mais tenho ouvido por aí:

Mas porque raios você agora usa esse trambolho?

Por várias razões, mas vou citar sete:

1. É um esporte completamente diferente

Embora nos últimos anos eu até tenha adquirido um certo gosto em fotografar na rua, eu nunca me imaginei como um Cartier-Bresson: um tiozinho de sobretudo se escondendo atrás dos postes pra pegar “o momento decisivo”. Nada contra, só não é o meu esporte preferido. Meu esporte preferido é uma mistura maluca de pintura com experiência científica – eu analiso as coisas como elas aparecem pra mim, tento entender, e vou acumulando as dúvidas. Tudo o que eu não entendo eu fotografo, pra ver se as coisas ficam mais claras. Estranho, né? As pessoas têm os mais variados motivos para fotografar, e alguns são bem esquisitos.

Clicar assim exige muita observação e pouca “fotografação”. Aí eu vi que clicava bem pouquinho, com a câmera no tripé pra analisar bem o enquadramento – e me senti armando um cavalete pra pintar num post-it. Já que é pra ser uma coisa mais zen, mais estática, eu podia usar uma camerinha maior, né? Fui ver quais eram as opções.

2. 4×5 é o menorzinho e mais barato

Por incrível que pareça, 4×5 é o caçulinha do grande formato. É um baita negativo – aproximadamente 10×12,5cm, o que equivale a 11 vezes a área do 35mm – mas não é o maior de todos: há ainda o 5×7, 8×10, 11×14 (tudo isso em polegadas) e mais alguns monstrões que chegam a 40x50cm. Grande, não? Um 8×10 é do tamanho de uma capa de revista, dá pra acreditar?

Sally Mann e uma 8×10

O legal do 4×5 é que te dá toda a flexibilidade do grande formato, por um preço que ainda é bem bacana;pago cerca de 50 dólares por uma caixinha de 50 chapas PB de boa qualidade, o que somando com os químicos (revelo em casa mesmo) não dá 4 reais por clique. Mais barato que Polaroid!

Trabalhar com filme colorido ou de dimensões maiores sai bem mais caro, mas aí aparecem outras opções; o Impossible Project está fabricando instantâneos em 8×10, e a partir desse tamanho também fica interessante usar processos antigos e pouco conhecidos, como colódio úmido ou mesmo daguerreótipo. Dá pra fazer em casa, mas não tente sozinho – tudo é tóxico nesse mundo dos processos fotográficos do século retrasado.

Isto é o que é preciso para revelar chapas 4×5. Menos a cerveja; são garrafas pra guardar os químicos diluídos!

3. O processo é mais controlado e divertido

Outra vantagem do grande formato é que pensamos sempre em uma chapa de cada vez. Posso puxar o filme, mudar o químico, mudar o tempo de revelação para mexer no contraste, enfim! Dá para fazer tudo, foto a foto. Em um rolo, tenho de processar todas as fotos de uma mesma maneira. Com chapas, posso fazer inclusive duas fotos iguais e revelar de maneira diferente. No caso do PB, é fácil fazer em casa mesmo.

Aqui tem três lentes, duas Rodenstock e uma Schneider

Com câmeras de grande formato, é comum não se ligar muito em marcas – praticamente qualquer lente serve em qualquer câmera – mesmo que ela tenha 100 anos de idade – com mínimas adaptações que qualquer um consegue fazer. Há centenas de opções para cada categoria de lente, e cada um tem suas favoritas. Se você trocar de câmera, provavelmente vai poder conservar suas lentes.

5. Te obriga a ter uma boa técnica

Em grande formato, a mecânica de tudo é extremamente simples – você mesmo pode desmontar completamente a sua câmera para limpar ou trocar peças, e a resistência do conjunto é típica de equipamento agrícola.Dificilmente uma câmera dessas quebra, e quando quebra, é mais fácil ela ir parar no marceneiro ou serralheiro do que num técnico em câmeras. 

Essa simplicidade acaba obrigando o fotógrafo a entender bastante do ofício; o foco é controlado simplesmente pela distância entre a lente e o filme, a perspectiva pela inclinação da parte de trás da câmera, e por aí vamos – o que frequentemente faz com que a gente acabe pegando de volta da gaveta aqueles livros de técnica fotográfica, com todos aqueles cálculos e compensações que a gente até viu, mas nunca chegou a aprender…

Um rolinho 135 em cima de uma chapa 4×5… grande não?

6. Quando sai, fica lindo!

Considerando que todo um ritual é necessário e leva pelo menos uns dez minutos pra armar todo o equipamento pra uma foto, a satisfação de ver um negativo DAQUELE TAMANHO reveladinho é enorme. E também é enorme a ampliação – considerando que um negativo 35mm precisa ser ampliado 8 vezes pra dar um print 18x24cm, imaginem um 10x12cm ampliado 8 vezes! O céu é o limite – bom, o tamanho do ampliador também é, mas que é que… ah… fica lindo!

7. Quando não sai, a história é bacana

Olha só: considerando que todo um ritual é necessário e leva pelo menos uns dez minutos pra armar todo o equipamento pra uma foto, qualquer distração é fatal. Eu já esqueci tampinha dentro de câmera, abri a caixa onde o filme estava do lado errado, fiz o foco bonitinho e chutei o tripé quando me afastei da câmera, já revelei filme virgem, já esqueci de armar a lente, já prendi o fole errado e ele soltou no meio da foto…

Essa eu revelei virgem, porque montei o filme do jeito mais errado possível

Enfim: se fazer besteira é fundamental pra aprender, por que não fazer besteira com estilo?

É isso.  Esses são os principais motivos que me fizeram escolher uma câmera analógica da década de 80 para trabalhar; e embora eu use 35mm, 6×7 e digital, é com esse trambolho que mais me divirto.

Em breve espero falar sobre as câmeras mais interessantes e baratinhas que se pode achar por aí, e como começar no formato; até lá!

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