Danilo Russo lança guia completo sobre Iluminação na Fotografia em palestra ao vivo
O domínio da iluminação na fotografia é algo que não acontece do dia para...
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O sol forte da fazenda em Aimorés, no interior de Minas Gerais, castigava o jovem Tião. Os olhos claros e a pele bem branca mais sensíveis à luz fizeram com que desde pequeno Sebastião Salgado se protegesse do sol e visse o mundo sempre a partir da sombra, proporcionando uma maneira peculiar de ver o mundo e o fazendo dominar logo cedo o efeito contraluz tão presente em suas fotografias.
Filho caçula com mais sete irmãs, Salgado formou-se em economia na Universidade Federal do Espírito Santo. Em 1969, em plena ditadura militar no Brasil, foi morar em Paris com a esposa Lélia. Começou a trabalhar para Organização Internacional do Café e viajar muito para países da África. É aqui que começa sua história com a fotografia.
Seu filho Juliano Ribeiro Salgado também decidiu contar essa história e convidou o cineasta Wim Wenders para codirigir o documentário, como forma de ter um olhar de fora da vida e obra de seu pai. “O Sal da Terra” é o filme de um grande fotógrafo dirigido por um grande cineasta. Consagrado por filmes de ficção e documentários como “Paris, Texas”, “Tão longe, tão perto” e “Buena Vista Social Club”, Wenders começa o filme contando da primeira vez em que viu uma fotografia de Salgado e de como a imagem lhe tocou profundamente de modo que seria impossível recusar o convite para conhecer na intimidade o autor daquela obra.
Com a câmera em plano fechado, em preto e branco, seguindo a estética das imagens de Salgado, e em meio às fotografias estonteantes do artista, as narrativas vão alternando entre Wenders, Juliano e o próprio Sebastião comentando suas fotos, nos apresentando seu trabalho e contando as histórias por trás de cada imagem.
Salgado começa a fotografar com a antiga leica de sua esposa e logo fica apaixonado pela arte de desenhar com a luz. Profissional já conceituado na área de economia decide largar tudo e viver de fotografia. Começa então a trabalhar de modo independente fotografando eventos sociais, esportivos e até mesmo nus.
A formação em economia forneceu ao fotógrafo um amplo conhecimento sobre mercado e o modo como funciona o mundo, aspecto intrínsecos em seu trabalho. Em seu primeiro projeto, “Outras Américas”, Salgado volta à América Latina, depois de mais de dez anos morando fora do Brasil, acompanhando a cultura dos povos locais. Em sequência publicou o livro “Sahel: O homem em pânico”, fruto da colaboração com os Médicos sem Fronteiras, para depois se concentrar na documentação do trabalho manual em todo o mundo, afirmando seu caráter de fotógrafo social.
“Quantas vezes não tive que abaixar a câmera para chorar?”. São poucas as vezes em que Salgado faz comentários como esse durante o filme. Ironicamente, Wenders, que deveria trazer um olhar de fora ao documentário, faz um relato tão íntimo do artista que o tom de família se mantém por todo o filme, deixando de abordar e aprofundar questões de tensões e questionamentos do fotógrafo com o mundo, seu trabalho e consigo mesmo. Em meio as fotografias temos a voz de Sebastião Salgado nos contando os detalhes, sensações, descobertas e objetivos de cada clique, mas são deixados de lado questionamentos a cerca do que é feito com sua obra, como o fato de imagens tão carregadas de dor e sofrimento serem vendidas em livros de luxo que acabam em casas da alta sociedade.
É perceptível, porém, o seu respeito pelos objetos fotografados e sua vontade em mostrar ao mundo a violação dos direitos que estava presenciando. Em “Êxodos”, projeto em que retratou as migrações, seja para fugir da guerra, fome ou em busca de trabalho, Sebastião percebe que as diferenças de cores, línguas, culturas e oportunidades não são nada comparadas aos sentimentos e reações iguais de todas as pessoas.
Mundialmente conhecido como fotógrafo social e fascinado pelas pessoas, que são o sal da terra para o fotógrafo, Sebastião vai buscar na natureza a cura para sua alma doente de ver tanto sofrimento. Volta às origens e junto da mulher, Lélia, começa a replantar milhares árvores na antiga fazenda da família, fundando o Instituto Terra, ao mesmo tempo em que começava seu projeto mais recente, “Gênesis”.
Depois de uma vida inteira como fotógrafo social Salgado parte em mais uma viagem, desta vez para registrar civilizações e regiões ainda inexploradas. O filme é um retrato generoso, sem grandes traumas, preocupações ou questionamentos, de um dos mais importantes fotógrafos brasileiros (embora tenha poucos diálogos em português, são em sua maioria em inglês e francês). Vemos de perto a maneira como foi feito seu trabalho, o modo como conta histórias e aborda diferentes aspectos da sociedade por meio de fotografias, tudo isso em meio a imagens tão belas quanto impactantes.
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