// Fotografia: Suporte da Memória, Instrumento do Devaneio

Na introdução do livro conceitos fundamentais da história da arte, Wolflin narra a tentativa frustrada de quatro artistas em pintarem a mesma paisagem. Apesar de  serem compostas pelos mesmos elementos, cada um construiu sua imagem de maneira diferente, seja no ponto de vista, na leveza ou dureza do traço e  até mesmo na maneira em que cada autor se coloca em relação àquilo que escolheram pintar.  Isso quer dizer que, como criação humana, a imagem leva a marca daquele que a fez.
A fotografia surge como uma tentativa de estabilizar a imagem, de tirar dela  seus traços mais subjetivos, racionalizando a representação do espaço tridimensional e carregado, em um primeiro momento o estigma de verdade acontecida, de reprodução de um dado real. A primeira tentativa de estabelecer conceitos artísticos próprios a essa nova forma de produção imagética acontece por volta de 1902, com Alfred Stieglitz e o movimento da fotosecessão, ganhando força com as vanguardas modernas, que demonstraram a possibilidade de construção da imagem fotográfica. Antes disso, as tentativas de aproximação entre arte e fotografia concentravam-se nos movimentos pictorialistas, que tentam devolver o caráter único à obra usando vários tipos de retoques.

Começam a delinearem-se as abordagens pelas quais a fotografia seria discutida nos próximos anos, e surgem tantas teorias quantas maneiras de perceber e receber esta nova forma de imagem. Se por um lado está Walter Benjamin, que levanta questões como o fim da aura na obra de arte ou o valor de um quadro como testemunho do talento de seu autor, por outro está Pierre Bordieu, sociólogo, antropólogo e filósofo que, contratado pela Kodak realiza em 1963 um estudo sobre o impacto que a máquina exerce no público amador, passando por Barthes e sua teoria da mensagem sem código, por Rosalind Krauss e sua defesa da fotografia como um campo artístico específico, por Phillipe Dubois  e sua divisão da fotografia em três momentos distintos: espelho do real, transformação do real e traço do real, dentre outros.

O ponto comum de todas estas abordagens está no problema da recepção, em como a imagem é interpretada e recebida pelo público. De um modo geral, a fotografia aqui é entendida como uma criação pessoal que reflete a personalidade de quem a fez, do que é fotografado e das interpretações que fazemos dela, e sendo assim, pode transitar facilmente entre ser um suporte para a memória ou instrumento para o devaneio, que iremos estudar melhor nas próximas postagens. Acompanhem por aqui as próximas atualizações.

Lila Souza
Lila Souza é arquiteta, urbanista, especialista em fotografia pela Universidade Estadual de Londrina, mestranda em Multimeios pelo departamento de cinema no Instituto de Artes da UNICAMP e dá aulas de Técnicas de composição no Instituto Internacional de Fotografia. Foi aceita pelo Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico – CNPq –  para o grupo de Comunicação e História atrelada à linha de pesquisa Mídia e Memória.

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