// Artigo publicado na revista Photo do professor do IIF Laurent Guerinaud

Visões dos desertos Andinos

Nas altitudes do Chile e de Bolívia, um paraíso para quem gosta de fotografar.

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O deserto do Atacama, no Chile, é considerado o mais seco do mundo: não chove lá há mais de 500 anos! O Salar de Uyuni, que faz parte do Deserto do Lipez, na Bolívia, é a maior planície salgada do mundo, com uma superfície de mais de 10.000 km². São regiões ermas que oferecem horizontes únicos e inesquecíveis. Suas altitudes variam entre 2.000 e quase 7.000 metros acima do nível do mar. Esses locais, que oferecem paisagens variadas, são o paraíso perfeito para quem gosta de fotografar.

As maiores dificuldades que enfrentei na viagem que fiz em setembro de 2008 estiveram relacionadas à altitude e às temperaturas. As manhãs são frias, em torno de -15°C e chegam a +30°C no meio da tarde. Sem contar com o vento, que pode ser forte e frio em certos lugares. Por isso, tive que levar muitas roupas, das mais quentes (e volumosas) às mais leves, em quantidade suficiente para os dias que ficaria na região, já que não iria ter a oportunidade de lavá-las. Carregava também um saco de dormir, produtos de higiene e mapas. Assim, não tive possibilidade de levar muito equipamento fotográfico. Comprei apenas uma bolsinha, na qual cabia a DSLR com sua lente. Escolhi a Carl Zeiss 16-80mm para acompanhar minha A100*. Eu sabia que iria sentir falta das focais maiores, mas a excelente qualidade ótica dessa lente e os 10 megapixels da câmera permitiriam fazer recortes caso fosse necessário. Levei também três cartões de memória de 4GB cada, uma bateria extra e o carregador. Peguei também uma compacta pequena. Ao final, deu certo: em meio às mudanças climáticas, com o vento e a poeira, trocar a lente teria sido arriscado…

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É preciso pensar nas dificuldades quando se faz uma viagem como essa. A altitude provoca dor de cabeça, náuseas, fadiga… A falta de oxigênio torna cada esforço difícil e cansativo. Os nativos usam folhas de coca para ajudar a suportar o mal das alturas. Eles bebem chá de coca ou mascam as folhas. Além de o chá ser gostoso, pesquisas mostraram que a ingestão regular melhora a saúde. Por isso, não perca essa oportunidade.

Para me acostumar à altitude, comecei explorando o Deserto do Atacama, hospedando-me com minha esposa em San Pedro de Atacama que fica a “apenas” 2.400 metros de altitude. Fiquei quatro dias, fazendo expedições nas alturas (até 5.000 metros) durante o dia e voltando à noite. Assim, evoluí para altitudes entre 2.400 e 5 mil metros, sem ficar nas alturas por mais de cinco horas consecutivas, conseguindo me acostumar sem dificuldade.

Já na estrada entre o aeroporto de Calama e a cidade de San Pedro fiquei encantado com a beleza dessa região árida, de terra cinza, entre os vulcões, e me emocionei ao assistir ao por do sol dali pela primeira vez. Foi extraordinário: o céu estava carregado de cores incríveis, do roxo ao rosa quase fluorescente, passando por todos os tons de turquesa. Ao longo das excursões, fiquei impressionado com a quantidade de panoramas diferentes oferecidos pelo deserto. Todos, sem exceção, maravilhosos: as estranhas formações do Salar de Atacama, com seus lagos cheios de flamingos; o setor das lagunas e dos vulcões Miñiques e Miscanti, com suas cores saturadas, sua vegetação seca, seus lagos azuis e suas vicunhas; as dunas de areia e as rochas dos Valles de La Muerte e de La Luna; as paredes de sal da Cordillera de la Sal; a fumaça dos gêiseres do Tatio, seus coelhos verdes (viscachas) e suas piscinas termais; o cânion do Valle de Jere, que forma um oásis de vegetação verde no meio do deserto de areia; os cactos gigantes da Quebrada de Guatín; as aldeias típicas e a encantadora cidade de San Pedro…

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Depois de ter me acostumado à altitude, registrando em imagens esses momentos mágicos no Atacama, fui para o Deserto do Lipez, na Bolívia. Eu e minha esposa cruzamos o deserto num 4×4, que levava um grupo de seis pessoas. Fomos hospedados por famílias e passamos uma noite num hotel de sal.

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De novo, passei por paisagens muito variadas e ainda mais grandiosas do que as do Chile. Tive que usar de muita criatividade para conseguir registrar a imensidão da natureza local. Comecei pelas Lagunas Blanca, Verde e Colorada, cheias de flamingos; e pelo Deserto de Dali, cujas montanhas e vulcões têm uma grande variedade de cores indo do branco ao preto, passando por todos os tons de amarelo, marrom e roxo. Assisti ao espetáculo dos gêiseres, bem diferentes dos do Tatio; entrei nas florestas de pedras, visitei aldeias típicas com povos muito atenciosos e gente muito interessante, e, finalmente, cheguei ao famoso Salar de Uyuni. Essa extensão branca a perder de vista é incrível! No meio do Salar, cheguei a uma “ilha” chamada de Isla Del Pescador, cercada de sal branco, onde vivem cactos gigantes de até doze metros de altura. Finalmente cheguei a Uyuni e seu cemitério de trens. Já tinha 12GB de fotos.

Tirei a maioria das fotos dessa matéria com a minha A100*, deixando a compacta para as fotos mais pessoais, como às dos quartos onde dormi, dos restaurantes, dos amigos que encontrei… Isso permitiu salvar espaço nos cartões de memória da DSLR para gravar as fotos no formato RAW, com qualidade ótima para grandes ampliações destinadas a exposições ou fine-art. Apesar do frio, nunca tive problemas de bateria, mesmo quando não tinha eletricidade para recarregá-las à noite por vários períodos seguidos.

Tecnicamente, fotografar nos desertos não apresentou muitas dificuldades. As cores naturalmente saturadas, assim como o céu azul, rendem fotos maravilhosas. Bastou sombrear um pouco a exposição (de 0,3 ou 0,7 IL) para se adaptar à luz forte e ajustar o equilíbrio de brancos tirando a foto de uma superfície branca a cada mudança do tipo de luz, ou seja, ao amanhecer, durante o dia e ao pôr do sol.

Foi mais complicado ajustar as cores quando fui fotografar os gêiseres, porque a luz natural estava com tonalidade azul que não consegui retratar no momento. Felizmente, eu tiro todas minhas fotos no formato RAW, o que permite ajustar esse parâmetro depois no computador.

Na verdade, retoco pouco minhas imagens: 70% só precisam ser direitamente convertidas em JPG e os retoques que faço nas outras são recortes. Às vezes, ajusto o equilíbrio de brancos ou a luminosidade. Para isso, uso o software da Sony, que vem com a câmera, e o FotoFiltre Studio, que é bem mais simples do que PhotoShop. Em regra, já sei, quando tiro a foto, quais são os ajustes e recortes que vou fazer depois.

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Geralmente uso o modo A da câmera (prioridade abertura) e ajusto a abertura segundo a profundidade de campo que desejo. Para isolar o sujeito com uma profundidade de campo reduzida, uso a abertura máxima, fechando apenas um ou dois diafragmas, porque lentes sempre dão resultados péssimos quando se usa suas aberturas máximas.

Como tirei muitas fotos de paisagens, usei mais as aberturas entre f/11 e f/20 para que todos os planos ficassem nítidos. Eu sei que, a partir de f/11, a nitidez diminui, por causa da difração, embora a profundidade de campo aumente. Então, tive que escolher o melhor equilíbrio segundo o resultado que desejava.

Além dessas considerações técnicas, o mais importante sempre foi a composição das imagens. Se não for para imprimir em tamanhos superiores a A4, qualquer câmera com quaisquer parâmetros dá resultados semelhantes depois do tratamento. Assim, é o que o fotografo coloca no quadro que faz a diferença.

Por Laurent Guerinaud

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